quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Três caras fazendo o som de trinta

Se considerarmos as bandas sobre as quais já escrevi neste Blog, sempre bandas menos conhecidas ou até mesmo "alternativas, pode soar estranho eu agora falar de Rush. Mas, pensando bem, o que me impede de contar algumas histórias que me ligam à minha banda preferida?

Não deve haver muita gente no Brasil que destaca de imediato o Rush como "banda preferida", sem pestanejar. E se houver alguém, provavelmente não teve como primeira experiência o álbum Caress of Steel. Pois é, e se é para falar de "fã de primeira hora", esse é bem o caso. Aconteceu em 1975 (há muuuuuuito tempo atrás...), quase perto da virada para 1976. Numa daquelas levas de discos emprestados que meu irmão inventava (quem será que comprava tanto disco para emprestar???) veio esse, com aquela capa meio mística, esquisita. Você abria e dentro tinhas as letras, escritas em caracteres quase góticos, num painel que imitava um documento antigo, lembrando um papiro. E umas fotos que mostravam o Geddy Lee, o baixista e vocal, como um dos sujeitos mais feios que já surgiram. E foi só ouvir para perceber que ao feioso Geddy se associava uma voz única, estridente, quase incômoda, mas muito afinada.

O primeiro contato sonoro foi Bastille Day, a primeira musica do lado um. Um início explosivo, uma bateria que chamava a atenção, e umas curvas melódicas que me prenderam para ouvir tudo, nos mais de quarenta minutos seguintes. Eu lembro da impressão ao terminar: que coisa estranha e bacana, feita por três caras que sem dúvida soavam como se houvesse ali muito mais gente, fazendo um som poderoso. Não foi possível gostar de tudo de primeira, mas eu já sabia, então, e confirmei muitas vezes depois, com muitas bandas, que a melhor música não é aquela que cola de primeira nos ouvidos, mas sim aquela que você vai interpretando e compreendendo ao longo de várias audições. Era o caso.

Logo o disco foi embora com os outros emprestados, mas voltou numa outra leva, agora comprado pelo meu irmão, no meio de outros usados que ele comprou não sei onde e não sei de quem. Pelo visto ele também havia gostado.

Ouvi muitas vezes, sem saber se era o primeiro disco ou o nono do Rush. O que importava? Eu era totalmente duro e não conseguiria comprar outros, se houvesse...

Aí virou o ano, começou 1976, e como quase todos os anos de minha infância e adolescência, descemos para Santos, para o pequeno apartamento de minha tia, na praia do José Menino. Ali perto havia um supermercado, creio que era um Pão de Açucar, para onde íamos quase todo final de tarde. Logo na primeira ida eu desviei até a prateleira de discos e comecei a fuçar. De imediato descobri que havia pelo menos três discos do Rush: o que eu tinha ouvido, um branco só com a palavra "Rush" em uma cor próxima ao vermelho, e um outro azul, com uma coruja (ou um bicho parecido) levantando vôo.

Valeu como informação, pois eu não tinha dinheiro para comprar nenhum dos dois. Meu irmão passou do lado e disse: "o primeiro não compensa, mas o Fly By Night é super-bom". O Fly By Night era o da coruja, e valeu, de novo, como informação... Eu podia até dizer que não dava prá ter cultura musical sem um tostão, mas o fato é que meu irmão era tão duro quanto eu, e já tinha ouvido os três!! ...

Muita coisa aconteceu daí para a frente, mas isso é tema para outro post. Ou outros?

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